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Filmopolis
Sunday, 2 November 2003
MAL AMADO


Com o desaparecimento, a semana passada, de Elia Kazan (na foto, dirigindo Marlon Brando), desapareceu uma figura importante da hist?ria do cinema e da hist?ria do cinema americano. Figura importante e, tamb?m controversa: por raz?es pol?ticas, como se sabe (ele foi um dos principais delatores ? Comiss?o de Actividades Anti-Americanas do Senador McCarthy), mas tamb?m por raz?es propriamente cinematogr?ficas e pelos caminhos (nem todos "brilhantes", ali?s) que abriram ? ind?stria americana, a viver, ent?o, na d?cada de 50, um decisivo momento de reconvers?o.

Grego de origem (Kazanjoglous era o seu nome verdadeiro), foi em Nova Iorque, na d?cada de 30 - ao lado de nomes como Lee Strasberg, Stella Adler, Clifford Odets -, que Kazan se envolveu com o teatro americano: primeiro como actor e assistente de cena do Group Theater, depois como fundador, com os seus colegas, do Actor's Studio, um revolucion?rio (para o tempo) laborat?rio de actores que transformaria o famoso M?todo de Stanislavsky e as suas defesas nas capacidades expressivas do actor num dos c?nones da moderna representa??o teatral e cinematogr?fica. Como o pr?prio Kazan explicou, o M?todo tratava de misturar a nitidez das ac??es, "controladas a cada segundo", com "a emo??o intensa e verdadeira do actor, ancorada no seu subconsciente e, muitas vezes, surpreendente na sua revela??o". O sucesso do Actor's Studio foi (? ainda) enorme, tendo-se celebrizado nas carreiras de Marlon Brando, Paul Newman, James Dean, Nathalie Wood, Marylin Monroe, Steve McQueen, Al Pacino, Robert De Niro...

Na sua migra??o do teatro para o cinema, Kazan transportou consigo o essencial destas convic??es na maleabilidade do actor e na sua capacidade de viver (e transmitir) em cena uma genu?na interioridade emocional. Porque o M?todo era, essencialmente, uma forma de ensinar modos de criar, disciplinar, conservar e transmitir uma determinada emo??o - de representar o pr?prio inconsciente. Tais pr?ticas deram, na obra de Kazan, um punhado de filmes incontorn?veis: H? Lodo no Cais (1954), A Leste do Para?so (1955), Baby Doll (1956), Rio Selvagem (1960), Esplendor na Relva (1961), ou O Compromisso (1969), filmes que lhe constru?ram (pelo menos, alguns) a reputa??o de fazedor - quase solit?rio - de uma nova gera??o de actores. Mas trouxeram, tamb?m, para dentro do cinema, formas de constru??o dram?tica completamente diferentes, muito mais centradas na figura do actor - na sua puls?o "hist?rica" - do que nas modalidades estritamente cinematogr?ficas de composi??o e montagem. Por isso, Howard Hawks - o mais cl?ssico dos cl?ssicos - o acusou de ter feito recuar a hist?ria do cinema, de pelo menos vinte anos.

Felizmente, que ao excesso de representa??o de Kazan respondeu, na mesma altura, o "neutralismo" e o cinema mental de Hitchcock. Porque, se ? verdade que Kazan, o mais mal amado dos cineastas, est? muito longe de ser um realizador desinteressante (at? por ser um dos que melhor filmou a dist?ncia abissal entre a realidade e o sonho na sociedade americana do p?s-guerra), n?o ? menos verdade que a heran?a do M?todo que tanto amou e defendeu se plasma hoje na mediocridade e no histrionismo da televis?o (das telenovelas aos telejornais) e, tamb?m (j? agora), nas m?ltiplas e detest?veis "escolas de actores e apresentadores" que, um pouco por todo o mundo, o preparam e fazem sobreviver. O que n?o ? s? uma heran?a pesada, mas injusta.

Posted by jmgriloportugal at 9:18 AM EST
Updated: Sunday, 2 November 2003 1:29 PM EST

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