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Filmopolis
Sunday, 2 November 2003
KUBRICKIANA

A partir de hoje ? noite, e durante parte do m?s de Novembro, a Cinemateca Portuguesa ir? exibir uma retrospectiva (quase) integral da obra de Stanley Kubrick. Das treze longas-metragens realizadas pelo cineasta, em 50 anos de carreira, apenas n?o ser? exibida a primeira - Fear and Desire, de 1952 -, um filme renegado pelo realizador, que o classificou de "exerc?cio amador, completamente in?til, entediante e pretensioso". A falta de Fear and Desire - imposs?vel de ver, actualmente - ser? compensada, entretanto, pela inclus?o de duas curtas-metragens, Day of the Fight (1950) e The Flying Padre (1951), uma curiosidade a que haver? que acrescentar uma outra: o document?rio "autorizado" A life in pictures, revisita??o da vida e da obra de Kubrick, realizado por Jon Harlan (com a voz de Tom Cruise), filme que abrir? o ciclo, contando com a presen?a do realizador e um debate no final da sess?o.

Esta retrospectiva ? merecida e oportuna. Merecida, porque a obra de Kubrick ?, juntamente com a de Hitchcock, a ?nica que manteve uma cinefilia exterior ao pr?prio cinema, uma corte de seguidores e admiradores incondicionais que lhe emprestaram, ao longo do tempo (e, sobretudo, a partir de 2001, Odisseia no Espa?o), uma enorme popularidade. Oportuna, porque esta mesma popularidade tem algo de misterioso, desde logo por ser completamente indiferente (e, at?, avessa) a uma identifica??o de g?nero. Se Kubrick ? um cineasta, por vezes, muito amado, n?o ?, seguramente, por ser um realizador de fic??o cient?fica (2001) ou de filmes de guerra (Paths of Glory, Dr. Estranhoamor, Full Metal Jacket) ou de filmes de ?poca (Spartacus, Barry Lindon) ou de thrillers mais ou menos psicol?gicos (Killer's Kiss, The Killing, The Shining) ou mais ou menos er?ticos (Lolita, Laranja Mec?nica, Eyes Wide Shut). Suspeito pois - e esta retrospectiva talvez o confirme (da? a sua oportunidade) -, que a devo??o popular e cin?fila a Kubrick tem bastante que ver com o reconhecimento - t?o dif?cil, quase sempre - de um certo "estilo" e do que dele se pode esperar, independentemente do tema preciso do argumento ou do g?nero do filme. Num momento em que o cinema parece completamente balanceado do lado do espect?culo e do entertainment, esta sobreviv?ncia cin?fila de um autor ? mat?ria segura para uma reflex?o substancial e importante.

Para a solu??o deste "enigma", Gilles Deleuze adiantou uma solu??o hist?rica interessante, que pode ajudar a acompanhar o (re)visionamento destes filmes, ao classificar Kubrick como um dos cineastas (Hitchcock, Resnais) que desloca o essencial da comunica??o f?lmica, do corpo (do que um filme nos pode fazer sentir) para a mente. "Ao pensar na obra de Kubrick, v?-se at? que ponto ela corresponde a uma encena??o do pr?prio c?rebro. As atitudes do corpo podem atingir um paroxismo de viol?ncia, mas dependem sempre do c?rebro. Porque em Kubrick, o mundo ? um c?rebro; como na grande mesa circular e luminosa de Dr. Estranhoamor, o computador gigante (e o mon?lito) de 2001, o hotel Overlook, de Shining. Em Kubrick, h? uma renova??o do tema da viagem porque qualquer viagem no mundo passa a ser uma explora??o do c?rebro". Tanto A.I. (realizado por Spielberg, depois da morte de Kubrick) como o projecto - muito sonhado mas nunca realizado - de Napole?o fechariam, seguramente, este novo retrato mental do homem, como renascimento de uma velha personagem cinematogr?fica: n?s pr?prios, mais monstruosos e mais inquietantes.

Posted by jmgriloportugal at 9:40 AM EST

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