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Filmopolis
Sunday, 23 November 2003
ADEUS, XAVIER
Eu sei que talvez devesse aproveitar este espa?o para falar, esta semana, dos muitos filmes de que toda a gente fala e que v?o passando (mais ou menos meteoricamente) pelas salas portuguesas: s?o os ?ltimos dos irm?os Warchowski (Matrix Revolutions), de von Trier (Dogville), de Tarantino (Kill Bill), de Gus van Sant (Elephant) ou, mesmo, a obra-prima sui generis e admir?vel que ? India Song, de Marguerite Duras, que a Atalanta Filmes rep?s em c?pia nova, abrindo um ciclo dedicado ? obra not?vel desta n?o menos not?vel e singular?ssima cineasta. Em vez disso, por?m, vou aqui despedir-me de um filme que n?o sei quando tornarei (quando tornaremos) a ver: Xavier, o primeiro filme de Manuel Mozos, que estreou, vai para um m?s, e que ainda est? em exibi??o, por enquanto, numa ?nica sala de Lisboa e num ?nico hor?rio.

Xavier n?o merecia tal destino, embora, em boa verdade, se possa (e deva) dizer que ? o pa?s - que cada vez mais se estupidifica - que n?o merece tal filme. E Xavier at? esteve para nunca ser. Durante doze anos, Manuel Mozos lutou para conseguir que o seu filme sobrevivesse ? fal?ncia do co-produtor franc?s. Entretanto, chegou mesmo a estrear o seu segundo filme (Quando Troveja, em 1998), e n?o ? o menor dos sortil?gios que, num pa?s de raros filmes e raros cineastas, uma primeira-obra estreie depois da segunda. Isso marca bem uma diferen?a - o filme quase parece de "?poca" -, mas as diferen?as de Xavier n?o s?o realmente essas. J? antes de mim houve quem escrevesse que se Xavier tivesse estreado na altura em que foi feito, muita coisa podia ter mudado no cinema portugu?s. Porque Xavier - hist?ria de um rapaz (Pedro Hestnes) em rota de colis?o com uma cidade (Lisboa) - esconde, realmente, a promessa de um novo cinema novo portugu?s, o cinema de uma nova gera??o que ?, talvez, doze anos depois, o que mais falta nos faz.

E nada disto ? s? (sem o deixar de ser, completamente) por o filme tanto nos fazer lembrar a alma, o sangue, o nervo e o m?sculo de Verdes Anos, filme realizado por Paulo Rocha, h? quarenta anos, e que iniciou, ent?o, uma revolu??o radical no status quo apodrecido da cinematografia portuguesa da altura. Xavier ? um filme com um idioma pr?prio, sonhado e feito, totalmente, nas margens das imagens dominantes (mesmo as do cinema, para j? n?o falar das da televis?o), e que parte, solitariamente, ? descoberta de uma nova po?tica portuguesa, que n?o ? s? cinematogr?fica. Do filme, guardo muita coisa: por exemplo, o risco el?ptico e brutal, que fende o filme em liga??es surpreendentes, o "casal" Hestnes/Isabel Ruth (Laura, a m?e), a rela??o fraterna entre Xavier e Hip?lito, o fundo palpitante da cidade (soberbo o plano em que Xavier conserta uma antena num telhado de Alc?ntara). De tudo isso, no entanto, o que mais me fascina ? essa vontade de tecer todo um filme ? volta de um ?nico protagonista, um grande, paciente e magn?fico gesto de humildade, absolutamente incomum no cinema portugu?s, e que faz com que Xavier, apesar do atraso com que nos chega, mantenha, para sempre - sabemo-lo hoje - a for?a genu?na de uma mudan?a, que o filme nunca deixar? de ser, realmente. Foram doze anos; mas parece, apesar de tudo, que ainda ? tempo.

Posted by jmgriloportugal at 8:56 AM EST
Updated: Sunday, 23 November 2003 9:11 AM EST

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