« November 2003 »
S M T W T F S
1
2 3 4 5 6 7 8
9 10 11 12 13 14 15
16 17 18 19 20 21 22
23 24 25 26 27 28 29
30
You are not logged in. Log in
Entries by Topic
All topics  «
Filmopolis
Thursday, 6 November 2003
A IMAGEM DO POEMA
O seman?rio Expresso tem vindo a editar ao ritmo de um Canto por semana uma surpreendente vers?o de Os Lus?adas, de Lu?s de Cam?es. Trata-se de uma edi??o completa e complexa, composta pelo texto ?pico de Cam?es, uma "tradu??o" desse texto, est?ncia por est?ncia, em linguagem "corrente" (por qu? a op??o gr?fica "manuscrita"?), um gloss?rio bem organizado dessas express?es e termos que tanto dificultaram a compreens?o do poema a gera??es e gera??es de portugueses, um conto assinado por um escritor, de acordo com o material espec?fico de cada Canto e, finalmente, um conjunto exuberante e divertido de ilustra??es realizadas por Pedro Proen?a, que estiveram at? h? bem pouco tempo (e na totalidade do seu conjunto) em exposi??o no Centro Cultural de Bel?m. ? caso para dizer que se tudo isto nada fizer pela constru??o de uma nova rela??o entre o pa?s e o seu mais importante legado liter?rio e cultural, ent?o, provavelmente, nada o far?.

Independentemente, por?m, dos seus prop?sitos ou, at?, dos seus efeitos, a verdade ? que esta grande opera??o editorial acaba por ser uma "boa li??o para os pol?ticos" (e estou a citar o Dr. Dur?o Barroso, quando visitou a exposi??o) que t?m gerido o (pequeno) mundo da cultura portuguesa. Sempre prontos a atirar, dos gabinetes onde est?o encafuados, uma pedra "a quem passe", escudando-se na falta de p?blico para acusar os artistas e, genericamente, os agentes culturais do pa?s, n?o percebem os pol?ticos que n?o lhes d? isso raz?es de acusa??o mas, justamente, motivos para vergonha e das grandes. Porque de vergonha deviam corar os respons?veis culturais e educativos, ao ver esta edi??o de Os Lus?adas. Que t?m eles para lhe contrapor? A adapta??o infantil feita por Jo?o de Barros em "mil novecentos e troca o passo", com o Adamastor na capa (ainda hoje massivamente utilizada nas escolas p?blicas e privadas do pa?s), talvez alguns esfor?ados op?sculos explicativos, a c?lebre e traum?tica edi??o de capa de percalina vermelha e, sobretudo, o ?pico abandono (socialista, mas depois ratificado pelo governo PSD) do estudo do poema como mat?ria estruturante da aprendizagem da l?ngua e dos seus recursos expressivos, nos ensinos b?sico e secund?rio.

Bom, mas a raz?o que aqui traz estes Lus?adas n?o s?o as mis?rias dos governos que pagamos mas, antes (o que ? muito mais importante), a aud?cia de Pedro Proen?a, que aproveitou o poema para refazer a iconografia p?tria em 117 ilustra??es, 10 por cada canto e ainda v?rios e saborosos retratos do poeta. S?o imagens atravessadas pela ironia de onde n?o est? ausente a vontade de confrontar o poeta de todos os passados e futuros profetizados com a realidade do pa?s que temos e que os Lus?adas foram capazes de construir. Disse o pintor, numa afirma??o j? muito glosada a pretexto deste trabalho, que "um certo ar c?mico ? a maneira de falar de coisas s?rias, de cultivar o gosto pelos paradoxos e de desconfiar da forma institucional como a arte e os artistas se apresentam em sociedade". Se assim o pensa, melhor o fez. E eu acho que n?o desdenharia destas imagens o pr?prio Lu?s de Cam?es; ? que elas complementam, admiravelmente, na farsa, a ironia que o poema faz adivinhar nas suas desproporcionadas estrofes de gl?ria. Tem, assim, raz?o Alexandre Pomar, quando afirma que, "para um pintor que cultiva as fantasias visuais e narrativas, o camoniano desconcerto do mundo s? podia ser um estimulante desafio". Nem mais, como se v?.

Posted by jmgriloportugal at 2:10 AM EST
Updated: Sunday, 23 November 2003 8:47 AM EST

View Latest Entries